A Arma da Teoria – Amílcar Cabral

Boa noite, pessoal!

A publicação de hoje se refere a um raríssimo livro sobre Amílcar Cabral e que conta com dois textos do autor: A arma da teoria e A cultura nacional. Abaixo segue a descrição oficial da obra de Carlos Comitini.

Um Homem-Povo não morre jamais porque constitui uma unidade indestrutível. Abel Djassi (nome de Amílcar Cabral na clandestinidade) era um Homem-Povo. Os colonialistas assassinaram o Homem mas o Povo da Guiné-Bissau continuou em luta e alcançou o seu mais nobre objetivo: a Independência Nacional da Guiné-Bissau.
Amílcar-Homem, filho, irmão, esposo, pai, engenheiro-agrônomo; Amílcar-Povo, poeta, combatente, máximo dirigente do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde, um dos pais da Pátria Africana. Amílcar Cabral, revolucionário.

O primeiro artigo desta obra reproduz o discurso pronunciado por Amílcar, em nome dos povos e organizações nacionalistas das ex-colônias portuguesas na Africa, na I Conferência de Solidariedade dos Povos da África, Ásia e América- Latina (A tricontinental de Havana, Cuba), durante a sessão plenária de 6 de janeiro de 1966.
As linhas mestras do pensamento do autor estão contidas nesse célebre discurso: domínio imperialista, história e força motriz da história, alavanca social da luta de libertação.
Em A Cultura Nacional, conferência na Universidade de Syracusa, Estados Unidos, em 20 de fevereiro de 1970 [primeiro aniversário do assassinato do Presidente da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) Dr. Eduardo Mondlane] Amílcar perguntava: “A mais brilhante manifestação de civilização e cultura não será a dada por um povo que pega em armas para defender a sua pátria, o seu direito à vida, ao progresso, ao trabalho e à felicidade?”

Colonialistas nada entendem de liberdade. Em 20 de janeiro de 1973, eliminaram o Homem, mas no Povo permanecerão gravadas eternamente suas últimas palavras proferidas quando da comemoração desse Ano Novo:

Mas perdem o seu tempo e fazem perder em vão e sem glória as vidas dos jovens portugueses que mandam para a guerra. Cometerão ainda mais crimes contra as nossas populações, farão ainda muitas tentativas e manobras para tentarem destruir o nosso Partido e a luta. Farão certamente ainda vários atos de agressão desavergonhada contra os países vizinhos. Mas tudo em vão. Porque nenhum crime, nenhuma força, nenhuma manobra ou demagogia dos criminosos agressores colonialistas portugueses será capaz de parar a marcha da História, a marcha irreversível do nosso povo africano da Guiné e Cabo Verde para a Independência, a paz e o progresso verdadeiro a que tem direito.”  (Amílcar Cabral)

Para fazer o download completo basta clicar no link:
A ARMA DA TEORIA – AMILCAR CABRAL

Unidade Africana – Ideologias das Independências Africanas

O post de hoje trata-se de um fichamento acerca do capítulo quatro do livro Ideologias das Independências Africanas, de Yves Benot, vol. 1, p. 195-217. Neste fichamento, procuramos resumir as principais ideias e impressões de Yves Benot acerca da unidade africana nas lutas e processos de independência.

Na primeira parte deste capítulo, o autor se propõe a apontar a gênese da noção de unidade africana, assim, ele acredita que ela tenha sido introduzida ou sugerida pelo pan-africanismo a partir de 1919.

Além disso, o autor faz uma análise do pan-africanismo, dos congressos e dos principais autores pan-africanos, criticando seu caráter cultural – o que para ele acaba por afastá-lo da realidade política -, sem, contudo, reconhecer sua importante contribuição para África, principalmente no que tange à sua libertação.

Para acessar o fichamento completo, basta clicar no link:
fichamento – cap. 4 – Ideologias das Independências Africanas

Coletivo Negro Patrice Lumumba 

Neocolonialismo – último estágio do imperialismo. N’ KRUMAH, Kwame

Dando continuidade ao nosso trabalho de resgatar autores africanos, principalmente no tange às produções sobre economia política de África, dessa vez estamos disponibilizando mais uma obra de Kwame N’krumah, Neocolonialismo – último estágio do imperialismo, nas palavras de Leandro Konder:

Poucos meses antes da sua deposição, N’krumah conseguiu apresentar, no presente trabalho, uma autêntica radiografia da África, um admirável quadro clínico dos males que afligem os povos africanos e lhes estorvam o desenvolvimento. Servindo-se de farto e precioso material informativo, pondo a nu as conexões dos trustes, nomeando expressamente seus representantes e suas ramificações. N’krumah nos mostra com nitidez o mecanismo do neocolonialismo e nos indica a direção em que é preciso lutar para vencê-lo.
Sua perspectiva ideológica é tão realista e suas conclusões tão justas que temos o
direito de duvidar de que a carreira política de N’krumah esteja encerrada.

Para fazer download completo do livro em português, basta acessar o link:
NEOCOLONIALISMO KWAME NKRUMAH

Coletivo Negro Patrice Lumumba

Discurso da Cerimônia de Independência do Congo – Dia 30 de Junho de 1960

Patrice Lumumba

No discurso da Cerimônia de Independência do Congo, Patrice Lumumba, a despeito da independência outorgada, isto é, da independência formal/política com a concordância da Bélgica, cuja finalidade desta era controlar economicamente o país, ressalta que a independência congolesa foi conquistada por meio de luta, pondo fim as idéias colonialista existentes. Desse modo, Lumumba promove uma ruptura com o sistema de dominação colonialista, o que não se vislumbra nas outras independências que ocorreram por ocasião.

À íntegra.

Congoleses e congolesas,

Combatentes hoje vitoriosos da independência,

Eu vos saúdo em nome do governo congolês.

A todos vocês, meus amigos, que lutaram sem descanso ao nosso lado, peço que façam deste 30 de junho de 1960 uma data ilustre e que a guardem indelevelmente gravada em seus corações, uma data que vocês ensinarão, com orgulho, aos seus filhos o significado, para que eles façam conhecer aos seus filhos a história gloriosa da nossa luta pela liberdade.

Pois esta independência do Congo, se hoje é proclamada com a concordância da Bélgica, país amigo com quem tratamos de igual para igual, nenhum congolês digno deste nome jamais poderá esquecer, foi conquistada pela luta, uma luta de todos os dias, uma luta ardente e idealista, uma luta na qual não poupamos nem nossas forças, nem nossas privações, nossos sofrimentos, nem nosso sangue.

Desta luta, que foi de lágrimas, fogo e sangue, estamos orgulhosos até ao mais profundo de nós mesmos, pois foi uma luta nobre e justa, uma luta indispensável para por fim à humilhante escravidão que nos era imposta pela força.

Qual foi a nossa sorte durante 80 anos de regime colonial, as nossas feridas estão ainda muito frescas e muito dolorosas para que nós possamos removê-las da nossa memória; nós conhecemos o trabalho exaustivo, exigido em troca de salários que não nos permitiam nem comer para matar a nossa fome, nem nos vestir ou morar decentemente, nem criar nossos filhos como seres amados.

Nós conhecemos as ironias, os insultos, as pancadas que devíamos suportar, de manhã, de tarde e de noite, porque éramos negros.

Quem esquecerá que a um negro se dizia “tu”, certamente não como se diz a um amigo, mas porque o respeitável “vous” era reservado somente aos brancos?

Nós conhecemos a pilhagem de nossas terras, espoliadas em nome de textos pretensamente legais que não faziam mais do que reconhecer o direito do mais forte.

Nós conhecemos o que era a lei não ser a mesma, caso se tratasse de um branco ou de um negro, confortável para uns, cruel e desumana para os outros.

Nós conhecemos os sofrimentos atrozes dos que foram degredados por opiniões políticas ou por crenças religiosas, exilados em sua própria pátria, com sorte pior do que a morte.

Nós conhecemos o que era haver casas magníficas para os brancos e palhoças miseráveis para os negros, ou, nas lojas ditas europeias, um negro nem poder entrar, ou, nas barcaças, um negro viajar como um galináceo, aos pés do branco em sua cabine de luxo.

Quem esquecerá, enfim, os fuzilamentos onde pereceram tantos de nossos irmãos, as masmorras onde foram brutalmente atirados aqueles que não queriam mais se submeter ao regime de injustiça, opressão e exploração?

Tudo isso, meus irmãos, nós temos sofrido profundamente. Mas, também, tudo isso, nós, que fomos escolhidos, pelo voto dos seus representantes eleitos, para governar o nosso amado país, nós, que sofremos em nosso corpo e em nosso coração a opressão colonialista, dizemos a vocês, em voz alta: tudo isso finalmente acabou.

A República do Congo foi proclamada e o nosso querido país está agora nas mãos dos seus próprios filhos. Juntos, meus irmãos, minhas irmãs, começaremos uma nova luta, uma luta sublime que levará o nosso país à paz, à prosperidade e à grandeza.

Juntos, nós vamos estabelecer a justiça social e assegurar que cada um receba a justa remuneração por seu trabalho.

Mostraremos ao mundo o que pode fazer o homem negro quando trabalha em liberdade, e faremos do Congo o centro de iluminação de toda a África.

Nós vigiaremos para que as terras de nossa pátria tragam benefícios verdadeiramente para seus filhos.

Nós vamos rever todas as leis de outrora e fazer novas, que serão justas e nobres. Nós vamos pôr fim à opressão do pensamento livre e fazer com que todos os cidadãos gozem plenamente das liberdades fundamentais previstas na Declaração dos Direitos do Homem.

Nós vamos suprimir eficazmente toda discriminação, seja ela qual for, e dar a cada um o justo lugar que merece sua dignidade humana, seu trabalho e sua dedicação ao país.

Nós faremos reinar, não a paz dos fuzis e das baionetas, mas a paz dos corações e da boa vontade. Para tudo isto, queridos compatriotas, podem estar seguros de que poderemos contar não somente com as nossas enormes forças e as nossas imensas riquezas, mas também com a ajuda de numerosos países estrangeiros, cuja colaboração, sempre que for leal e não procurar nos impor uma política, seja ela qual for, aceitaremos sempre.

Nesse domínio, a Bélgica, que compreende enfim o sentido da História, não tentando opor-se à nossa independência, está disposta a conceder-nos sua ajuda e amizade, e um tratado foi assinado nesse sentido entre nossos dois países iguais e independentes.

Essa cooperação, estou seguro, será vantajosa para os dois países. De nosso lado, mantendo-nos alertas, saberemos respeitar os compromissos livremente consentidos.

Assim, tanto interna quanto externamente, o Congo, nossa querida república que meu governo irá criar, será um país rico, livre e próspero.

Mas, para que cheguemos sem atraso a esse objetivo, peço a todos, legisladores e cidadãos congoleses, que me ajudem com todas as suas forças.

Peço a todos que esqueçam as querelas tribais que nos esgotam e que nos fazem correr o risco de sermos desprezados no exterior. Peço à minoria parlamentar que ajude meu governo com uma oposição construtiva, ficando estritamente dentro das vias legais e democráticas.

Peço a todos que não recuem diante de nenhum sacrifício para assegurar o ressurgir da nossa grandiosa tarefa. Peço a todos, finalmente, que respeitem incondicionalmente a vida e os bens de seus concidadãos e dos estrangeiros estabelecidos em nosso país.

Se a conduta desses estrangeiros deixar a desejar, a nossa Justiça estará pronta a expulsá-los do território da República; se, pelo contrário, sua conduta é boa, é preciso deixá-los em paz, pois também eles trabalham para a prosperidade de nosso país.

A independência do Congo é um passo marcante para a libertação de todo o continente africano.

Eis o que, Sire, Excelências, minhas senhoras e meus senhores, meus queridos compatriotas, meus irmãos de minha raça, meus irmãos de luta, eu queria dizer-lhes, em nome do governo, neste dia magnífico de nossa independência completa e soberana.

Nosso governo forte, nacional, popular, será a salvação deste país. Convido todos os cidadãos congoleses, homens, mulheres e crianças, a irem resolutamente ao trabalho para criar uma economia nacional próspera que consagrará nossa independência econômica.

Homenageemos os combatentes da liberdade nacional!

Viva o Congo independente e soberano!

Read more at http://mpda.e-monsite.com/blog/discurso-do-lider-africano-patrice-emery-lumumba.html#SPBvdWQ9ETGqustT.99

 

 

Discurso “O Vento da Mudança” de Harold Macmillan, primeiro-ministro britânico, ao Parlamento sul-africano em 1960 – Inédito em Português

Em 3 de Fevereiro do ano de 1960, conhecido posteriormente como o “O ano da África”, devido à independência alcançada por 17 colônias no continente, Harold Macmillan, o primeiro-ministro conservador da Grã-Bretanha, dirigiu-se ao Parlamento da África do Sul, cuja maioria era do partido que instituiu o apartheid como base de governo. A sua intervenção ficou conhecida como o discurso “O Vento da Mudança”.

O discurso foi direcionado não só ao Parlamento sul-africano, como também aos Estados do Sul da África, que tinham grupos expressivos de colonizadores brancos (e, quase sempre, enormes riquezas minerais) que ainda resistiam à ideia do sufrágio universal, na qual os negros constituiriam a esmagadora maioria dos eleitores.

Macmillan, em seu discurso, explica a importância de conquistar as populações asiáticas e africanas para o lado do Ocidente. A sua fala demonstrava como os líderes da Grã-Bretanha (e, consequentemente, os dos Estados Unidos) viam como causa perdida o domínio eleitoral branco no Sul da África, que poderia prejudicar o Ocidente, principalmente em um contexto de Guerra Fria. O vento continuou a soprar no continente, e num país após o outro as maiorias negras impuseram-se, até que, em 1994, o próprio povo da África do Sul elegeu Nelson Mandela como seu presidente. Entretanto, neste processo, os interesses econômicos da Grã-Bretanha e dos Estados Unidos foram de alguma forma mantidos.

 

Coletivo Negro Patrice Lumumba